Tudo começou há cerca de 15 anos e meio, quando pedi aos
meus pais um irmão ou uma irmã. Este desejo não estava na lista deles, por isso
decidiram ajudar um colega do meu pai que estava a precisar de uns donos para a
ninhada que os seus cães tinham tido. Sendo assim, os meus pais foram buscar
uma cadela Caniche Anã. Toda branquinha, bem pequenina, super indefesa. Parece
que ainda a sinto ao meu colo, a tremer, na sua primeira viagem, a viagem da
sua nova vida. Decidimos que se iria chamar Sacha. Na altura a minha mãe tinha
visto este nome numa revista e achou-o invulgar, mas ao mesmo tempo muito
original. Assim foi…
Durante estes anos todos, a Sacha foi uma fiel companheira e
amiga. A sua maior alegria era ver-nos chegar a casa da escola e do trabalho. Aquela
felicidade, amor e carinho que nos dava sempre que chegávamos. Eramos sem
dúvida uma família abençoada. Todos na minha localidade a conheciam. Quando ia
passear à rua adorava dar lambidelas às pessoas, assim como agradecia as suas
festas. Poucos segundos chegavam-lhe para saber quem era de confiança,
seguindo-as, se a deixássemos, até às suas casas. Em casa, a varanda era o seu
território. Fazia-se de valentona e protegia-nos ao máximo, nada passava por
ela. Era a rainha da gulosice, adorava comer, mas bolos eram sem dúvida o seu
petisco favorito. De manhã adorava saltar para as nossas camas e encher-nos de
lambidelas ao acordar. Eram umas manhãs animadíssimas! Viajava connosco, vivia
todos os momentos connosco, sempre em família.
Para além de todas estas qualidades falta a mais importante,
era uma guerreira! Foi diagnosticada com um problema de coração há alguns anos,
mas conseguiu resistir, combatendo todas as advertências. As veterinárias nem
acreditavam quando a viam, observavam as suas análises. Era admirável a sua
força de viver! Com o passar dos anos a velhice começou a pesar. Deixou de ser
tão ativa, já não subia as escadas, nem o sofá. Passava muito tempo a descansar
e quando queria fazer os seus passeios caía muitas vezes. Mesmo assim, a força
que a mesma tinha para se conseguir mover era de outro mundo – uma lutadora,
uma heroína! Se os dias eram difíceis para nós? Sim eram. Não dormíamos à
noite, andávamos com um lençol com a sacha, para assim a mesma poder andar sem
cair, lavávamo-la quase todos os dias, pois apesar de dormir com resguardos e
fraldas sujava-se muito, e víamos a sua decadência, pensando muitas vezes
quando seria o último dia da mesma.
Tudo começou ontem, quando levámos a Sacha a uma consulta de
rotina à veterinária. A mesma reparou que a Sacha tinha a barriga bastante
dura, comprimindo-se quando a veterinária pressionava-lhe a barriga. Foi fazer
uma ecografia. Na mesma não apareceu nenhum problema, apenas que o seu fígado
estava muito grande, devido a uma doença hormonal, estando este a fazer pressão
nos intestinos. A Sacha era uma cadela bastante nervosa, sendo assim durante o
tempo da ecografia esteve sempre a tremer e com bastante stress, algo péssimo
para o seu coração. A veterinária decidiu que iria-lhe dar uma injeção, para
assim passar o resto do dia e da noite sem dores, devendo esta ser observada
hoje para ver os resultados. Ao picar da agulha a Sacha lançou de imediato um
grito de socorro. Estava com medo, tremia, gritava, estava muito nervosa. Saímos
da veterinária e de imediato começa a gritar. Eu mudava a sua posição,
sentava-a, deitava-a de lado, de frente e nada. Cada vez gritava mais, um grito
ofegante e nada. Quando chegamos a casa já não se aguentava em pé e de repente
começou tudo. A falta de ar, a língua de lado, os olhos a revirar… Voltámos de novo
para a veterinária. A minha mãe a conduzir o mais rápido possível. Eu a
agarrar-lhe e a fazer fricções no peito. Quando chegámos foi de imediato
assistida. Ficámos na receção e só ouvíamos os gritos de suplico. As assistentes
diziam-nos que estava a oxigénio, para termos calma, mas eu e a minha mãe
estávamos lavadas em lágrimas. Uma das veterinárias veio-nos dizer que estavam
a tentar reanimá-la, para irmos buscar a sua comida e comprimidos a casa, pois
a mesma ia passar a noite no hospital para ser observada. Quando regressámos
novamente tudo estava mais calmo. A Sacha estava a soro e tinham-na sedado. Deixaram-nos
vê-la. Estava tranquilamente a dormir, mas com um ar desgastante. Durante a
noite ligámos e deram-nos boas noticias. A mesma estava estável, apesar de
muito debilitada. Tudo dependia de como esta iria acordar. Quando acordámos de
manhã a esperança permanecia. Ligámos e recebemos a notícia. Depois de 15 anos
e meio de vida a Sacha tinha morrido. Disseram que já nos tinham ligado às 8h
da manhã, pois durante a noite o sedativo deixou de fazer efeito e ao acordar a
mesma teve novamente um ataque. Tentaram reanimá-la mais uma vez, mas já sem
efeito. Disseram que foi rápido, praticamente sem dor, apenas o seu
coraçãozinho deixou de funcionar. Já está connosco neste momento, no seu
espaço, com a sua família. Agora já pode descansar, já não sofre e de certeza
que tem outra estrelinha a tomar conta dela.
Um obrigada enorme a todo o teu amor e companhia, não
poderia ter uma companheira e irmã melhor do que esta. Estarás para sempre nos
nossos corações.
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