Para a minha eterna companheira…


sábado, 23 de maio de 2015

Tudo começou há cerca de 15 anos e meio, quando pedi aos meus pais um irmão ou uma irmã. Este desejo não estava na lista deles, por isso decidiram ajudar um colega do meu pai que estava a precisar de uns donos para a ninhada que os seus cães tinham tido. Sendo assim, os meus pais foram buscar uma cadela Caniche Anã. Toda branquinha, bem pequenina, super indefesa. Parece que ainda a sinto ao meu colo, a tremer, na sua primeira viagem, a viagem da sua nova vida. Decidimos que se iria chamar Sacha. Na altura a minha mãe tinha visto este nome numa revista e achou-o invulgar, mas ao mesmo tempo muito original. Assim foi…



Durante estes anos todos, a Sacha foi uma fiel companheira e amiga. A sua maior alegria era ver-nos chegar a casa da escola e do trabalho. Aquela felicidade, amor e carinho que nos dava sempre que chegávamos. Eramos sem dúvida uma família abençoada. Todos na minha localidade a conheciam. Quando ia passear à rua adorava dar lambidelas às pessoas, assim como agradecia as suas festas. Poucos segundos chegavam-lhe para saber quem era de confiança, seguindo-as, se a deixássemos, até às suas casas. Em casa, a varanda era o seu território. Fazia-se de valentona e protegia-nos ao máximo, nada passava por ela. Era a rainha da gulosice, adorava comer, mas bolos eram sem dúvida o seu petisco favorito. De manhã adorava saltar para as nossas camas e encher-nos de lambidelas ao acordar. Eram umas manhãs animadíssimas! Viajava connosco, vivia todos os momentos connosco, sempre em família.





Para além de todas estas qualidades falta a mais importante, era uma guerreira! Foi diagnosticada com um problema de coração há alguns anos, mas conseguiu resistir, combatendo todas as advertências. As veterinárias nem acreditavam quando a viam, observavam as suas análises. Era admirável a sua força de viver! Com o passar dos anos a velhice começou a pesar. Deixou de ser tão ativa, já não subia as escadas, nem o sofá. Passava muito tempo a descansar e quando queria fazer os seus passeios caía muitas vezes. Mesmo assim, a força que a mesma tinha para se conseguir mover era de outro mundo – uma lutadora, uma heroína! Se os dias eram difíceis para nós? Sim eram. Não dormíamos à noite, andávamos com um lençol com a sacha, para assim a mesma poder andar sem cair, lavávamo-la quase todos os dias, pois apesar de dormir com resguardos e fraldas sujava-se muito, e víamos a sua decadência, pensando muitas vezes quando seria o último dia da mesma.




Tudo começou ontem, quando levámos a Sacha a uma consulta de rotina à veterinária. A mesma reparou que a Sacha tinha a barriga bastante dura, comprimindo-se quando a veterinária pressionava-lhe a barriga. Foi fazer uma ecografia. Na mesma não apareceu nenhum problema, apenas que o seu fígado estava muito grande, devido a uma doença hormonal, estando este a fazer pressão nos intestinos. A Sacha era uma cadela bastante nervosa, sendo assim durante o tempo da ecografia esteve sempre a tremer e com bastante stress, algo péssimo para o seu coração. A veterinária decidiu que iria-lhe dar uma injeção, para assim passar o resto do dia e da noite sem dores, devendo esta ser observada hoje para ver os resultados. Ao picar da agulha a Sacha lançou de imediato um grito de socorro. Estava com medo, tremia, gritava, estava muito nervosa. Saímos da veterinária e de imediato começa a gritar. Eu mudava a sua posição, sentava-a, deitava-a de lado, de frente e nada. Cada vez gritava mais, um grito ofegante e nada. Quando chegamos a casa já não se aguentava em pé e de repente começou tudo. A falta de ar, a língua de lado, os olhos a revirar… Voltámos de novo para a veterinária. A minha mãe a conduzir o mais rápido possível. Eu a agarrar-lhe e a fazer fricções no peito. Quando chegámos foi de imediato assistida. Ficámos na receção e só ouvíamos os gritos de suplico. As assistentes diziam-nos que estava a oxigénio, para termos calma, mas eu e a minha mãe estávamos lavadas em lágrimas. Uma das veterinárias veio-nos dizer que estavam a tentar reanimá-la, para irmos buscar a sua comida e comprimidos a casa, pois a mesma ia passar a noite no hospital para ser observada. Quando regressámos novamente tudo estava mais calmo. A Sacha estava a soro e tinham-na sedado. Deixaram-nos vê-la. Estava tranquilamente a dormir, mas com um ar desgastante. Durante a noite ligámos e deram-nos boas noticias. A mesma estava estável, apesar de muito debilitada. Tudo dependia de como esta iria acordar. Quando acordámos de manhã a esperança permanecia. Ligámos e recebemos a notícia. Depois de 15 anos e meio de vida a Sacha tinha morrido. Disseram que já nos tinham ligado às 8h da manhã, pois durante a noite o sedativo deixou de fazer efeito e ao acordar a mesma teve novamente um ataque. Tentaram reanimá-la mais uma vez, mas já sem efeito. Disseram que foi rápido, praticamente sem dor, apenas o seu coraçãozinho deixou de funcionar. Já está connosco neste momento, no seu espaço, com a sua família. Agora já pode descansar, já não sofre e de certeza que tem outra estrelinha a tomar conta dela.


Um obrigada enorme a todo o teu amor e companhia, não poderia ter uma companheira e irmã melhor do que esta. Estarás para sempre nos nossos corações. 


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